Gravação do evento de lançamento de “O que aconteceu após Nora deixar a Casa de Bonecas ou Pilares das Sociedades”

No mês de abril, o Centro Austríaco junto com a Embaixada Austríaca e os institutos Goethe de São Paulo, Brasília e Curitiba, promoveu eventos de lançamento de O que aconteceu após Nora deixar a Casa de Bonecas ou Pilares das Sociedades, de Elfriede Jelinek. 

Para quem não conseguiu comparecer ao evento, a editora Temporal disponibilizou, em seu canal do YouTube, a gravação da mesa com Bettina Hering. Dramaturgista e diretora teatral do renomado Festival de Salzburgo, Hering compartilhou com o público informações sobre Henrik Ibsen e Elfriede Jelinek e aspectos de suas obras. 

Confira o vídeo completo aqui:

O texto, traduzido por Angélica Neri, Gisele Eberspächer, Luiz Abdala Jr. e Ruth Bohunovsky, apresenta um dos traços fundamentais da escrita de Elfriede Jelinek: a intertextualidade – principalmente com as peças Uma Casa de Bonecas e Pilares da Sociedade, de Henrik Ibsen, mas conversa também com textos de diversas áreas (como política, feminismo, cultura pop etc.)

Após o fim da peça Uma Casa de Bonecas, de Henrik Ibsen, Nora passa a ser uma mulher emancipada, que sai em busca da sua liberdade. Como forma de tematizar questões sociais complexas, Elfriede Jelinek retrata as diferentes estruturas de submissão da mulher na sociedade. No caso de Nora, seja pela sua condição de operária de fábrica, seja em seu novo casamento com o Cônsul Weygang – personagem que ela emprestou de outra peça de Ibsen, “Pilares da Sociedade” – ela se vê submissa diante de todas as estruturas que a reprimem – mas também contribui, contrariando suas próprias intenções no começo da peça, para que essas estruturas não se alterem.

Você ainda pode conferir o artigo Henrik Ibsen, criador de “Uma Casa de Bonecas” e outras peças, de Bettina Hering, publicado no blog da editora temporal.

O livro pode ser adquirido no site da editora temporal.

Red Bull: a gigante austríaca

De velocidades que chegam a mais de 200 km/h até estádios de futebol lotados, a gigante Red Bull não parece diminuir o ritmo quando o assunto é negócios no mundo esportivo. Nos últimos anos o nome Red Bull se tornou um sinônimo de esportes radicais e projetos extremos (um salto da estratosfera é um feito difícil de superar), porém suas empreitadas não param aí. Atualmente dona de duas equipes na Fórmula 1, oito times de futebol, e patrocinando cerca de 700 atletas em diversas áreas, o sucesso da empresa austríaca neste ramo é inegável.

Sucesso este que se mantém quando pensamos os projetos individualmente. O Red Bull Racing e seus pilotos prodigiosos Max Verstappen e Sergio Perez estão atualmente em uma temporada absolutamente dominante de GPs. No que tange o futebol a compra do Bragantino de São Paulo parece ter surtido o efeito desejado, o time, atualmente Red Bull Bragantino, saiu da série B e agora segue firme na disputa para a primeira página da série A do Brasileirão. Mais forte ainda segue o Red Bull Leipzig, oficialmente RasenBall Leipzig devido a leis alemãs referentes a patrocínios, muito próximo de encerrar a Bundesliga em terceiro lugar e garantindo seu lugar na próxima Liga dos Campeões.

Uma empresa com este tipo de sucesso, a terceira maior dos “soft drinks” e a maior dos energéticos, só poderia ter uma história de origem digna de se conhecer um pouco. Em 1982, o empresário austríaco Dietrich Mateschitz viajou para a Tailândia e se encontrou com Chaleo Yoovidhya, proprietário da T.C Pharmaceutical. Durante a visita, Mateschitz percebeu que a bebida “Krating Daeng” de Chaleo o ajudou significantemente com a fadiga causada pela diferença de fuso horário. Então em 1984, Mateschitz fundou a Red Bull GmbH em parecia com Chaleo Yoovidhya e a transformou em uma marca internacional. Os dois proprietários então repartiram a empresa em 49% para cada, com os 2% restantes ficando para o filho de Yoovidhya, porém ficou acordado que Mateschitz é que comandaria a empresa. O primeiro Red Bull viria a ser lançado em 1987 na Áustria.

Atualmente a Red Bull GmbH é sediada na cidadezinha de Fuschl am See na Áustria, perto de Salzburg. Comandada pela família Yoovidhya após a morte de Mateschitz em 2022, que lutava há anos contra uma doença.

Bolsa de pós-doutorado NOMIS

O Programa de Bolsas NOMIS no Instituto de Ciência e Tecnologia da Áustria (ISTA) oferece a pesquisadores de pós-doutorado a liberdade de trabalhar em questões na interseção de duas ou mais disciplinas científicas em um ambiente científico único, ao mesmo tempo em que oferece a segurança de orientação científica excepcional de profissionais que são referências em suas respectivas áreas. Uma proposta de projeto interdisciplinar, a ser coorientada por dois representantes de grupos de diferentes disciplinas, identifica projetos e bolsistas que demonstram grande flexibilidade, criatividade e colaboração.

Todos os campos de pesquisa apoiados pelo ISTA serão elegíveis (consulte aqui). Caso a especialização interdisciplinar específica necessária para a pesquisa proposta não esteja disponível no ISTA, um supervisor secundário externo pode ser proposto.

NOMIS e ISTA concederão duas bolsas NOMIS anualmente, após um processo de inscrição em duas etapas (incluindo entrevista).

Benefícios de uma bolsa NOMIS:

Recursos de ponta e de última geração: unidades de serviço científico, fundos de pesquisa e viagens
Liberdade para explorar conceitos de alto risco; posição totalmente financiada por três anos (salário mínimo de 60.500 EUR (bruto) anualmente)
Ambiente de pesquisa aberto, colaborativo e interdisciplinar
Capacitação para o desenvolvimento de habilidades interdisciplinares; orientação dupla
O ensino no ISTA é incentivado (mas não obrigatório), com o objetivo de criar o ambiente mais propício para a criação e transferência de conhecimento
Integridade científica e treinamento de liderança, bem como suporte ao desenvolvimento de carreira
Contato com às redes globais da ISTA e da Fundação NOMIS de pesquisadores excepcionais e pioneiros


Requisitos de elegibilidade:

No momento do recrutamento (ou seja, no prazo de 8 meses após o prazo de candidatura), os candidatos devem ter obtido o seu doutorado e, de preferência, ter adquirido a sua primeira experiência de pós-doutorado e/ou formação interdisciplinar. No entanto, o Painel de Seleção de Bolsas NOMIS também considerará candidatos excepcionalmente promissores que não se enquadrem nos critérios acima.
Idealmente, os candidatos terão experiência inicial de pós-doutorado (ou interdisciplinar significativa). No entanto, o júri de seleção do NOMIS considerará todos os candidatos pendentes.
Os candidatos devem ter uma afiliação existente a uma instituição acadêmica/de pesquisa (nota: os candidatos internos não devem ter trabalhado no ISTA por mais de 12 meses na data limite de inscrição).
Após a rodada de avaliação inicial, os candidatos com melhor classificação devem estar disponíveis para uma entrevista remota após, aproximadamente, 4 a 6 semanas do prazo de envio.
No momento do recrutamento, os candidatos aprovados já devem ter obtido seu doutorado.
Se for bem-sucedido, a bolsa NOMIS deve começar dentro de seis meses a partir da notificação.
Consulte o guia do candidato, as perguntas frequentes e o formulário de auto avaliação de ética antes de se inscrever.

Enquanto isso, envie qualquer dúvida que possa ter sobre o programa para nomis-fellowship@ista.ac.at

Mais informações aqui

Prazo de inscrição: 15 de junho de 2023

Elfriede Jelinek e Peter Handke, dois ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura

Desde o começo deste milênio, uma escritora e um escritor austríacos ganharam o Prêmio Nobel de Literatura: em 2004, foi Elfriede Jelinek quem ganhou a cobiçada condecoração “por seu fluxo musical de vozes e contra-vozes em romances e dramas que, com extraordinário zelo linguístico, revelam o absurdo dos clichés da sociedade e seu poder de subjugo”. Em 2019, Peter Handke. Na ocasião, o comitê justificou a escolha com as palavras de que o autor mereceria o prêmio “por sua obra influente que explorou, com engenho linguístico, as áreas marginais e a peculiaridade da experiência humana“. 

As frases citadas sobre os motivos da entrega da distinção já apontam que estamos lidando com obras bastante diversas: enquanto Jelinek está interessada, através de sua literatura, em abordar, criticar e revelar contradições da sociedade em que vivemos e tratar de seus mecanismos de poder e discriminação, a obra de Handke se dedica em grande parte a questões de âmbito mais subjetivo ou a relação entre linguagem e a nossa percepção da realidade. 

Vejamos dois exemplos: num dos seus primeiros romances, As amantes [Die Liebhaberinnen], ainda sem tradução no Brasil, Jelinek trata da vida familiar, da construção de famílias e dos imaginários acerca dessa instituição no meio rural. Em vez de histórias de amor romântico com final feliz, a autora apresenta os esforços das duas protagonistas femininas para formar uma família como uma luta em que cada uma tenta eliminar as concorrentes mais fortes, mais atrativas e/ou mais ricas, para se casar com o homem que mais parece prometer uma ascensão social. A possibilidade de uma vida independentemente, também em termos econômicos, existe, mas são as próprias mulheres que optam pelo caminho do casamento para subir na vida. As mulheres, apesar de vítimas das estruturas patriarcais, contribuem assim para a manutenção dessas estruturas que as mantêm num lugar de segunda categoria. Mais que qualquer outro autor ou outra autora, Jelinek analisa e expõe fria e cruelmente o mundo das pequenas mentiras que nos contamos no dia a dia para manter em pé o nosso imaginário acerca da própria felicidade e do nosso sucesso.  

Já Peter Handke, embora às vezes também se manifesta sobre questões políticos (lembrando aqui as polêmicas em que se envolveu no que diz respeito à Sérvia durante a Guerra dos Balcãs), se debruça com grande intensidade sobre questões de âmbito subjetivo e o processo de escrita literária, a relação entre realidade e palavra. Citamos aqui um trecho do texto de orelha de uma das últimas traduções de sua obra aqui no Brasil, A segunda espada – uma história de maio (Tradução de Luis S. Krausz; Estação Liberdade, 2022): “Um exercício de escrita, uma introspecção no ofício. Peter Handke permanece fiel a si mesmo numa balada ao redor de seu terreiro nos arrabaldes parisienses. É nessas cercanias que o Prêmio Nobel de 2019 consegue dar as mais longínquas escapadas reais e imaginárias. Leva em sua navegação desde operários no bar local em fim de expediente até questionamentos à família sobre o nazismo. Qualquer semelhança com os road movies de Wim Wenders em seus melhores tempos não será coincidência: um se alimenta do outro.” 

A palavra “introspecção” talvez seja uma chave possível para comparar, mesmo que de modo bastante superficial, as obras de Jelinek e Handke, pois enquanto o termo é bastante útil para se referir à literatura de Handke, a de Jelinek não combina bem com esse termo, pois a escritora faz algo bem diferente, coloca o mundo, a sociedade, o patriarcado, o capitalismo, o racismo – para citar apenas alguns exemplos – na sua mira e abaixo de seu microscópio literário. 

Para leitores e leitoras interessadas nas obras de Jelinek e Handke, seguem aqui ainda algumas indicações de traduções brasileiras. De Elfriede Jelinek, temos 2 romances traduzidos (A pianista, 2011, Tordesilhas, tradução de Luis S. Krausz; Desejo, 2013, Tordesilhas, tradução de Marcelo Rodinelli). Há poucas semanas, saiu também o texto teatral O que aconteceu após Nora deixar a Casa de Bonecas ou Pilares das Sociedades (2023, Temporal, trad. Angélica Neri, Gisele Eberspächer, Luiz Abdala Jr., Ruth Bohunovsky).  

Já de Peter Handke, há mais traduções disponíveis. Textos em prosa: A mulher canhota & Breve carta para um longo adeus (1985, Brasiliense, trad. Lya Luft); O medo do goleiro diante o pênalti & Bem-aventurada infelicidade (1988, Brasiliense, trad. Zé Pedro Antunes); A repetição (1988, Rocco, trad. Betty Kunz); A ausência (1989, Rocco, trad. Lya Luft); História de uma infância (1990, Companhia das Letras, trad. Nicolino Simone Neto); A tarde de um escritor (1993, Rocco, Reinaldo Guarany); Don Juan – Narrado por ele mesmo (Estação Liberdade, 2003, trad. Simone Homem de Mello); A perda da imagem: ou através da Sierra dos Gredos (2009, Estação Liberdade, trad. Simone Homem de Mello); Ensaio sobre o louco por cogumelos: uma história em si (2019, Estação Liberdade, trad. Augusto Rodrigues); Ensaio sobre a jukebox (2019, Estação Liberdade, trad. Luis S. Krausz); Ensaio sobre o cansaço (2020, Estação Liberdade, trad. Simone Homem de Mello); Ensaio sobre o dia exitoso: sonho de um dia de inverno (2020, Estação Liberdade, trad. Simone Homem de Mello); A segunda espada (2022, Estação Liberdade, trad. Luis S. Krausz). Ainda temos a coletânea de textos teatrais Peças faladas (2015, Perspectiva, trad. Samir Signeu). 

Estudar e trabalhar na Áustria – noções básicas legais e recursos da Uniport

A Uniport, Serviço de Carreira Universidade de Viena, informou em uma palestra online sobre estudar e trabalhar na Áustria como nacional de um país terceiro. Compartilhamos aqui o resumo dos assuntos mais importantes. Além disso, informamos que a Uniport oferece sessões gratuitas de Coaching de carreira individual para nacionais de países terceiros.  

Reserve sua sessão gratuita através do link disponível aqui. Ou entre em contado através do e-mail: beratung@uniport.at 

Noções básicas legais:

Permissão de Residência – Estudante/ Aufenthaltsbewilligung – Student

• Para nacionais de países terceiros que tenham sido admitidos a estudar no ensino superior em uma instituição da Áustria. 

• Normalmente será emitido por um período de 12 meses, podendo ser renovado posteriormente. 

• Prova de aproveitamento escolar: 16 créditos ECTS por ano letivo. 

• Você deve levar sua “Permissão de Residência – Estudante” em todos os momentos para provar seu direito a residência na Áustria (especialmente durante uma viagem!) 

Trabalhando enquanto estuda…. importante saber

• Acesso ao mercado de trabalho: 20 horas/semana 

• Observação: comece a trabalhar apenas com uma autorização de trabalho válida/”Beschäftigungsbewilligung” 

• Não há alteração no número de horas permitidas (20 horas/semana) durante o intervalo do semestre ou feriados. 

Estágios profissionais (Berufspraktikum) e não remunerados (Volontariat) 

• Estágios profissionais: a autorização para fazer um estágio depende do fato de o estágio ser ou não um requisito obrigatório pelo currículo da sua licenciatura. 

• Estágios não remunerados: até três meses por ano civil com o único objetivo de adquirir conhecimentos práticos e habilidades sem compromisso com o trabalho e sem qualquer direito a remuneração. 

E depois da formatura? 

• Renovação da autorização de residência por mais 12 meses para procura de emprego ou constituição de empresa. 

• Cartão Vermelho-Branco-Vermelho 

O que é o Cartão Vermelho-Branco-Vermelho para graduados universitários/ Rot-Weiß-Rot-Karte für Studienabsolvent*innen?  

Com o Cartão Vermelho-Branco-Vermelho, a Áustria oferece uma autorização de residência para nacionais de países terceiros que desejam trabalhar como trabalhadores qualificados na Áustria e desejam permanecer na Áustria permanentemente. 

O que é preciso para obter o cartão?

Prova de oferta de emprego adequado: 

• O trabalho deve ser correspondente às preferências do candidato, 

• ser pago, e 

• cumprir os critérios especiais de elegibilidade. 

Para um cartão RWR (Rot-Weiß-Rot-Karte ) para graduados universitários, estes são, em particular, os pré-requisitos: 

• Conclusão de um programa de bacharel, pelo menos a segunda etapa de um tradicional programa de diplomas  (“Diplomstudium”), um programa completo de mestrado ou um programa de doutorado/doutorado numa instituição de ensino superior austríaca 

• Contrato de trabalho/contrato preliminar para um emprego correspondente ao seu nível de educação e com um salário mínimo local para trabalho profissional e experiência.

O que deve conter em um curriculum vitae? 

¬ Disposição e estrutura 

¬ Foto (profissional e atualizada) 

¬ Conteúdo 

⎫ Dados pessoais 

⎫ Experiência profissional/estágios/outras experiências profissionais 

⎫ Educação 

⎫ Formação contínua/qualificações adicionais 

⎫ Estudar / ficar no exterior 

⎫ Idiomas, habilidades de TI e outras habilidades relevantes 

⎫ Voluntariado, interesses e hobbies (opcional) 

Outros recursos on-line 

• Informação do Serviço Nacional de Emprego / Arbeitsmarktservice (AMS) sobre emprego de estrangeiros: aqui.

• Site oficial do governo sobre migração: informações sobre autorizações de residência, autorizações de trabalho,  etc.: aqui.

• Informações extensas e específicas do grupo-alvo sobre entrada e residência para estudantes e investigador, compilado por OEAD (Österreichischer Austauschdienst) aqui.

Todas as informações também disponíveis em inglês aqui.

• ABA – Austrian Business Agency: Ampla informação sobre o processo de imigração aqui.

• Aconselhamento profissional multilíngue e apoio em questões de reconhecimento. Auxílio na busca de „cursos intermediários“/formação contínua e seu financiamento aqui.

• Infos des Arbeitsmarktservices (AMS) zu den Themen Ausländer*innenbeschäftigung aqui.

• Brutto-Netto-Rechner der Arbeiterkammer – Calculadora online gratuita para calcular o seu salário antes e depois dos impostos, e/ou convertendo o salário anual em mensal e vice-versa aqui.

• Vienna Business Agency (Informações para pessoas que planejam iniciar seu próprio negócio) disponível aqui.

Meaoiswiamia

O título enigmático deste artigo é, também, o lema da participação da Áustria na renomada Feira do Livro que está acontecendo nestes dias, em Leipzig (de 27 a 30 de abril). A Áustria é o país convidado deste ano, ou seja, sua produção literária ganha destaque especial no evento. Isso traz à tona, mais uma vez, a velha pergunta: existe uma literatura austríaca? E: fazer essa pergunta é relevante?  

A revista Die Zeit pediu a algumas pessoas, poetas e estudiosos, a completarem a frase “Literatura austríaca é…”. O que recebeu foram definições, reflexões e argumentações bem diversas. O escritor Thomas Stangl lembra que nem todo escritor ou toda escritora austríaca nasceu nesse país ou tem o alemão (austríaco) como primeira língua. Maja Haderlap, Florjan Lipuš ou Fiston Mwanza Mujila são exemplos de autores e autoras que vêm de outros contextos linguísticos e, hoje, são parte importante da literatura da Áustria. As margens, o excluído ou os limites borrados são, muitas vezes, as regiões onde se escreve a literatura mais interessante, mais urgente. E as fronteiras nacionais, quando vistas de perto, nunca parecem tão claras e definidas como quando vistas de longe. 

Também o cantor da famosa banda de música pop Wanda, Marco Wanda, tentou completar a frase acima mencionada, mas o resultado apenas mostra que ele está com mais dúvidas que certezas: “Não existe uma literatura austríaca”, diz Wanda, para logo depois listar vários nomes e exemplos de uma tal literatura austríaca e até afirmar que o mero fato de que os poetas da geração Beat dos Estados Unidos terem estudado os textos e músicas de Ernst Jandl e Hans Hölzl (mais conhecido como Falco) faz parte da literatura austríaca. “Querer escrever sobre algo que está mexendo comigo e querer que isso afete também os outros, isso é literatura austríaca. Mas não existe uma literatura austríaca.” 

E a renomada crítica literária Daniela Strigl nem se delonga na questão sobre alguma suposta “essência” da literatura de seu país, mas completa a frase com “… é doida, sobretudo quando vem de Graz”. Pois é lá, na segunda maior cidade do país, onde a literatura experimental e de vanguarda mostra sua maior criatividade e presença. Porque justamente nessa cidade, pergunta-se Strigl: “Não sei”, responde. 

Katharina J. Ferner, poeta e artista performativa, destaca ainda outra característica comum da literatura austríaca: muitas vezes, ela é escrita em alguma forma dialetal e ganha, desse modo, um tom, uma melodia e proximidade especial com os leitores e as leitoras. Já os tradutores dessa literatura ganham um desafio extra quando procuram encontrar em seu idioma uma forma para representar a função do dialeto austríaco (que, aliás, na literatura se transforma em uma linguagem artificial…). 

Por fim, alguns dias antes da Feira do Livro, o escritor Antonio Fian publicou um artigo, em que também reflete sobre a questão da literatura austríaca. Sua conclusão: “Eu já não aguento mais essa pergunta!”  

Antes de os nossos leitores e as nossas leitoras chegarem à uma conclusão semelhante, mudamos de tema e voltando ao título deste artigo, “Meaoiswiamia”. O que será que significa esse lema da participação especial da Áustria na Feira do Livro de Leipzig deste ano? Faça uma pesquisa na internet, tente completar a frase “Meaoiswiemia é ….” e mande sua resposta para o e-mail do Centro Austríaco (centroaustriaco.ufpr@gmail.com). A primeira pessoa que mandar uma resposta (em português) correta, ganha um exemplar do livro Áustria: uma história literária – literatura, cultura e sociedade desde 1650 (Zeyringer, Gollner, 2019, editora UFPR)! 

Vídeo sobre o livro “O que aconteceu após Nora deixar a Casa de Bonecas ou Pilares das Sociedades”

Gisele Eberspächer, uma das tradutoras de “O que aconteceu após Nora deixar a Casa de Bonecas ou Pilares das Sociedades”, gravou um vídeo contando mais sobre esta obra dramática de Elfriede Jelinek.

O texto, publicado pela Editora Temporal e traduzido por Angélica Neri, Gisele Eberspächer, Luiz Abdala Jr. e Ruth Bohunovsky, apresenta um dos traços fundamentais da escrita de Jelinek: a intertextualidade – sobretudo com a peça “Casa de Bonecas” de Henrik Ibsen, mas também com outros textos de diversas áreas (como política, feminismo, cultura pop etc.).

Quer saber mais sobre a relação com os textos de Ibsen, o conceito de New Woman e aspectos que envolvem a obra e o processo de tradução? Então confira esse vídeo super interessante sobre o primeiro texto teatral de Elfriede Jelinek publicado em português brasileiro:

Nise da Silveira – a cura pelo afeto e pela arte

No Brasil, assim como na Áustria, o tratamento psiquiátrico foi dominado durante muito tempo por métodos cruéis e desumanos. Mas, aqui como lá houve pessoas engajadas que se empenharam na luta contra tais tratamentos e a favor de métodos alternativos.  

Perto de Viena, na cidadezinha de Gugging, existia durante muitas décadas um hospital psiquiátrico que, nos anos 70 do século passado, ganhou notoriedade mundial. Responsável por essa fama foi um dos médicos, Leo Navratil (1921 – 2006), que iniciou na instituição um novo método de tratamento dos pacientes. Em vez de choques elétricos e outros métodos cruéis de “cura”, ele convidou os pacientes a se expressarem artisticamente, seja nas artes plásticas ou na literatura. Aos poucos, foi se mostrando que a atividade artística não apenas foi benéfica para o bem-estar dos pacientes, mas que muitos dos produtos tinham altíssima qualidade artística. Organizaram-se exposições, leituras poéticas e muitos escritores, músicos, intelectuais reconhecidos mundialmente – por exemplo, David Bowie – foram até Gugging para conhecer os artistas pessoalmente. Hoje, o prédio do antigo hospital abriga um museu que mostra as obras mais famosas, exposições de art brut e sobre outros assuntos relacionados com a temática e que, também, oferece oficinas e espaço físico para pessoas com deficiências conviverem e produzirem arte (para mais informações, acesse o site aqui).  

No âmbito do Centro Austríaco, Cristiane Bachmann elaborou um estudo sobre Ernst Herbeck, um dos poetas mais conhecidos e talentosos do grupo dos artistas de Gugging (conira o artigo escrito por Cristiane Bachmann acessando o link aqui). O trabalho conta com várias traduções excelentes dos poemas criativos e únicos de Herbeck. No Centro Austríaco, ainda estão disponíveis outros títulos de e sobre Herbeck, mas também sobre a “casa dos artistas” de Gugging e a arte fascinante que foi produzida por outros artistas da instituição. 

No Brasil, o nome mais importante na luta a favor de tratamentos mais humanos de pacientes psiquiátricos foi Nise da Silveira. No SESC Belenzinho (São Paulo) pode ser vista – só até o dia 26 deste mês de março!!! – uma mostra sobre a vida e obra dessa mulher pioneira, cientista e médica. Inspirada pelas obras de Sigmund Freud e, sobretudo, do suíço Carl Gustav Jung, mas também de psiquiatras brasileiros como Osório César, ela revolucionou a psiquiatria brasileira pelo gesto e pelo método baseado no afeto. Confira aqui algumas imagens da exposição!

Acesse aqui o folder digital da exposição sobre Nise da Silveira!

Magic Wolfi, um gênio a ser (re)conhecido entre nós

Alisson Guilherme Ferreira

Wolfgang Bauer (1941-2005) foi um escritor cujo legado para a literatura austríaca é inestimável, embora pouco reconhecido, talvez. Se vivo ainda, completaria hoje, 18 de março, 82 anos.

Versátil, Bauer enveredou pelos mais variados gêneros. Não obstante, o corpus de sua obra constitui-se majoritariamente de peças teatrais, nas quais ele pôde exercer toda a sua criatividade e aptidão para a criação dramatúrgica.

A despeito de controvérsias e escândalos com relação à sua figura pública e das críticas desfavoráveis, que muitas vezes se aproveitavam dos burburinhos midiáticos para pormenorizar a sua arte, ele foi capaz de construir uma carreira literária/teatral prolífica e respeitável.

Wolfgang Bauer, 1972.

Afinal, assim como os ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura de 2004 e de 2019, Elfriede Jelinek e Peter Handke, Bauer é considerado um dos grandes nomes do teatro austríaco, sendo, inclusive, admirado por estes e por outros literatos dentro e fora da Áustria.

As suas peças são caracterizadas pela estrutura pouco convencional, no que, é provável, seus Mikrodramen [Microdramas] (1962-1963) configuram o ponto deste traço, assim como pelo uso elaborado e refletido da linguagem, a exemplo de Magic afternoon (1968), de onde recebeu a alcunha Magic Wolfi, em que o uso de dialeto é explorado na interação dialógica entre as personagens.

Outra característica importante da obra baueriana é a presença massiva de elementos surrealistas e fantasiosos, os quais surgem já no seu primeiro trabalho, Der Schweinetransport [O transporte de porcos] (1961), escrita muito sob influência do teatro do absurdo de Ionesco.

Aliás, vale mencionar que Bauer foi apontado por Martin Esslin, junto de Thomas Bernhard e Peter Handke, como os únicos expoentes desta corrente na Áustria. E foi ele, Esslin, o responsável por popularizar Bauer em palcos internacionais, ao levar algumas de suas peças para os Estados Unidos.

Também têm especial protagonismo na obra baueriana o cômico e o hiper-realismo, que, de maneira sutil e complexa, trazem à tona as incongruências da sociedade austríaca e dos seres humanos em geral.

Temática, linguística e/ou estilisticamente, Wolfgang Bauer estava sempre em busca de se distanciar do que havia feito a cada novo trabalho, sem perder sua personalidade literária pelo meio do caminho.

E essas são apenas algumas de suas qualidades enquanto dramaturgo, as que mais saltam aos olhos, mas certamente há muito a ser dito sobre Bauer.

Este texto se apresenta não apenas como uma homenagem a este que foi, sem sombra de dúvidas, um virtuose do teatro, mas como um convite para que mais pessoas busquem conhecê-lo, com a consciência de que ao menos por enquanto o acesso à sua obra é bastante limitado no Brasil.

De toda forma, para quem tiver interesse, há uma tradução de Change (1968-1969) disponível em algumas bibliotecas do Instituto Goethe, Ruth Bohunovsky publicou um artigo chamado Os microdramas de Wolfgang Bauer: o riso como liberação e como provocação e no site do Centro Austríaco está disponível um verbete, o qual pode ser acessado clicando aqui, em que é possível conferir algumas informações importantes a respeito dele e de sua obra, bem como trechos de suas peças em tradução para o português.

Aproveitamos a oportunidade para fazer um convite para que todos conheçam também o projeto Teatro e dramaturgia austríacos.

No mais, esperamos trazer novidades dentro em breve sobre novas empreitadas bauerianas em terras tupiniquins.

E viva Bauer! E viva o teatro (austríaco)!

O Modernismo de Viena: 10 passeios pela Áustria

Nossa programação de 2023 começa com o curso “O Modernismo de Viena: 10 passeios pela Áustria”, que explora a cultura, as artes e a história deste movimento tão influenciador, que marca a capital da Áustria até hoje.

Este curso se dirige a aprendizes do idioma alemão (a partir do nível A.2.2) que tenham interesse em aprender sobre diferentes ramos artísticos de uma das épocas mais famosas e fascinantes da cultura europeia: o Modernismo Vienense. Com base na aprendizagem estética, o curso despertará a curiosidade através da observação e percepção consciente de formas, cores e tons e sua correlação com o mundo das palavras e conceitos em alemão. Visitaremos, entre outros, obras de Gustav Klimt e Egon Schiele, desenhos de Emilie Flöge, conheceremos a perspectiva psicológica sobre o processo criativo a partir das teorias de Sigmund Freud e sua relação com a literatura de Arthur Schnitzler. Além disso, faremos passeios virtuais pela cidade de Viena, para conhecer os mais importantes monumentos arquitetônicos construídos na época do Modernismo Vienense e, assim, desenvolver não apenas uma intuição para o misterioso e o belo, mas também para a filosofia e o pensamento, e as palavras que se escondem atrás de cada expressão artística.

Público-alvo: estudantes de alemão de A.2.2. até B.2
Total de encontros: 10
Data de início: sábado, 22 de abril, das 10h00 às 12h00 via Zoom
Data de término: sábado, 28 de outubro, das 10h às 12h via Zoom

Para acessar a programação completa clique aqui.

E para fazer sua inscrição, preencha o formulário disponível aqui.

O curso é gratuito e as inscrições ficarão abertas até 20 de abril.