II Simpósio Literatura Austríaca em foco: conhecendo autores e obras

Você sempre quis conhecer um pouco sobre a literatura austríaca? Se sim, o II Simpósio “Literatura austríaca em foco: conhecendo autores e obras” é para você. O nosso evento possuí o intuito de apresentar algumas discussões acerca da literatura de língua alemã, assim como introduzir ao público alguns autores e obras austríacas. 

Nosso simpósio será online e acontecerá durante os dias 23 e 24 de maio, das 18:30 às 20:00. Para participar, é só preencher o formulário de inscrição disponível aqui. 

Todos os participantes receberão certificado de participação. Os inscritos receberão o link do Zoom um pouco antes do evento.

Confira a programação:

Estudo na Áustria: informações e conversa com bolsistas

Localizada no coração da Europa, a Áustria oferece uma grande variedade concentrada em uma pequena área. Este evento será uma grande oportunidade de diálogo entre bolsistas, representantes da Áustria no Brasil por meio do Programa OeAD (Leitorado Austríaco) e interessados em geral pela cultura austríaca e pelas oportunidades que ela oferece ao público brasileiro.

O evento acontecerá no dia 23 de abril, às 18:00 (horário de Brasília), e os participantes poderão falar diretamente com bolsistas e ex-bolsistas sobre sua experiência na Áustria, além de receber informações gerais sobre bolsas e oportunidades de estudo na Áustria.

Faça sua inscrição através do formulário disponível aqui.

Hora de renovar as energias!

Antes de nos despedirmos de 2023 aproveitando a ceia de Natal e fazendo planos para o novo ano, vamos relembrar um pouco do que aconteceu esse ano aqui no Centro Austríaco e o que podemos esperar de 2024. 

Esse ano, nosso blog esteve recheado de posts sobre cultura e literatura da Áustria. Alguns destaques foram os textos sobre o Modernismo de Viena, o Museu de Sigmund Freud, sobre Elfriede Jelinek e Peter Handke, além de diversas publicações sobre as nossas produções de materiais didáticos para o ensino de alemão (que podem ser acessados aqui e usados de modo gratuito em sala de aula por qualquer docente que tiver interesse). Outros destaques foram os diversos eventos sobre o Modernismo de Viena e o nosso simpósio online intitulado “Literatura Austríaca em foco: conhecendo autores e obras”, que terá sua segunda edição no próximo ano. Além disso, foi oficializado o nosso  “Grupo de estudo e produção de material didático de alemão“, com vários encontros online e o primeiro workshop presencial. Alguns dos materiais criados já foram publicados, outros estão em andamento. O grupo está aberto para interessados. 

Em 2024, nosso foco temático vai ser uma figura muito conhecida: Franz Kafka – um dos escritores mais influentes da literatura de língua alemã do século XX e que faleceu há exatamente 100 anos, em 3 de junho de 1924 numa pequena cidade perto de Viena.  

Além disso, o grupo de leitura de textos dramáticos vai continuar em 2024, com encontros semanais presenciais.  

E claro, o Centro Austríaco vai dar continuidade aos eventos sobre cultura, literatura e produção de material didático.  

Para participar dos nossos projetos, entre em contato com o Centro Austríaco! E continue acompanhando nossas redes sociais para saber tudo o que acontece por aqui! 

Mas antes, precisamos descansar e renovar as energias! Voltamos em fevereiro! 

Feliz Natal e um ótimo 2024! 

Frohe Weihnachten und einen Guten Rutsch! 

“Film ist.” de Gustav Deutsch

Gustav Deutsch foi um arquiteto e diretor austríaco. Nascido em Viena, no dia 19 de maio de 1952 buscou, através dos seus filmes, traduzir experiências e vivências humanas que a princípio não eram retratadas no cinema. 

A coleção “Film ist.” dirigida por ele, traz gravações de materiais científicos e educativos através do gênero “Found Footage”.Esse gênero de filme adota um recurso narrativo onde parece que não houve intervenção de roteiro ou direção. Como se as imagens tivessem sido produzidas de maneira caseira, através de uma câmera comum ou de webcam, aproximando-se de um formato de documentário. O Found Footage se popularizou na década de 1980, período em que Gustav Deutsch iniciou a sua produção de filmes. Ele afirma: “Não estou interessado no conteúdo desses filmes científicos. Estou interessado no significado que é dado através da imagem. Eu queria detectar a poesia e o poder das imagens, de forma direta e racional.

Film ist. é uma coleção de filmes científicos que retratam gravações de vôos de pombos, testes de inteligência performados em macacos, vulcões em erupção, gravações do efeito do choque das ondas do mar, carros se chocando contra uma parede e vidros sendo quebrados. Outra parte da coletânea exibe 11 arquivos nos quais Gustav Deutsch constrói um musical dramático em 5 atos (genesis, paradeisos, thanatos, imaginary, symposium). São fragmentos silenciosos guiados por algumas citações de filósofos e poetas conhecidos como, por exemplo, Platão e Safo de Lesbos.

O objetivo de Gustav Deutsch não era produzir filmes teóricos mas sim, trazer a percepção de alguns efeitos através das imagens em movimento. A sua contribuição produz um entendimento mais profundo sobre como a ótica e a acústica se articulam na mídia. Além desse projeto, ele produziu outros filmes também premiados ao redor do mundo.

Novo material do Centro Austríaco: Kleider sprechen

O que você leva em conta na hora de escolher uma roupa pra vestir? Entre tantas cores, formatos, texturas, combinações e estilos, o que fez você escolher as peças de roupa que você está usando agora? 

O novo material didático do Centro Austríaco para o nível A2, “Kleider sprechen”, te convida a pensar se e o que nossas roupas dizem sobre nós. Nele você vai encontrar muito vocabulário, personalidades e diferentes opiniões sobre o tema.

Clique aqui para acessar o material e aqui para acessar o material de apoio para professores.

Conheça nossos outros materiais aqui.

Centro Austríaco lança novo material: Ein Land, viele Sprachen

“What línguas sprichst tú?”

Apesar de estranha é perfeitamente possível entender a pergunta acima. Isso porque não somos falantes monolíngues (não falamos, ou conhecemos, somente uma única língua). Falar mais de uma língua, mesmo tendo níveis de conhecimento diferentes, significa ser multilíngue.

A Áustria, assim como o Brasil, é também um país multilíngue! Você sabia que o alemão não é a única língua falada na Áustria? Várias línguas como Turco, Croata ou Húngaro, além da sua própria língua de sinais (ÖSG – Österreichische Gebärdensprache) são usadas na Áustria.

Com o novo material, Ein Land, viele Sprachen, do Centro Austríaco você vai conhecer a Sprachbiographie de diferentes pessoas, será capaz de fazer perguntas sobre o tema e falar sobre a sua própria Sprachbiographie. Além disso, você vai aprender um pouco sobre a realidade linguística da Áustria e do Brasil.

O material também pode servir para revisar vocabulário sobre idiomas e habilidades (Ich kann/spreche sehr gut/gut/ein bisschen/nicht so gut…)

Nessa unidade, vamos treinar as diferentes habilidades: ouvir (Hören), falar (Sprechen), ler (Lesen) e escrever (Schreiben), e também a mediação (Sprachmittlung).

E você ainda vai conhecer pessoas que falam diferentes línguas e vai poder gravar um pequeno vídeo falando sobre você e as línguas que você conhece!

Esse material é uma continuação temática da unidade de nível A1, Eine Sprache, viele Ländern. Mas não se preocupe! Você não precisa ter feito o primeiro material para estudar com essa nova unidade.

Clique aqui para acessar o material e aqui para acessar o material de apoio para professores.

Conheça nossos outros materiais aqui.

Escorrido (2005)

Helena Nazareno Maia

Publicado em 2005, por ocasião da morte do poeta e dramaturgo Wolfgang Bauer, o texto Ausgeronnen (Escorrido, nessa tradução) integra o extenso corpus de textos ensaísticos de Elfriede Jelinek. Nele, a autora – que costuma engajar nos debates contemporâneos e na vida literária austríaca por meio de seu site – reflete sobre o modo como Wolfgang Bauer desafiara os moldes do teatro dramático com seu hiper-realismo e, com isso, também a própria realidade – nossas expectativas com relação a ela, poderíamos dizer. Para Jelinek, Bauer fora um dos maiores escritores de sua geração, um poeta maior que, no entanto, não era mais tão encenado nos palcos de língua alemã – talvez, ela avulta, justamente pelo caráter provocador de sua obra. O texto, nesse sentido, atesta sua profunda admiração pelo colega de ofício e tenta explicar, à típica maneira jelinekania, como Bauer e suas personagens teriam experimentado uma relação de dupla determinação e como, em suas peças, que podem parecer tão concretas, um abismo se coloca.  

A tradução aqui disponível convida o leitor a se perder conosco nas frases labirínticas de Jelinek, pontuadas com dúvidas, jogos de linguagem e humor, para talvez entender um pouco mais (ou talvez ainda menos?) o teatro de Bauer. 

Escorrido (2005) 

Wolfgang Bauer foi um autor muito sério, caso contrário não poderia ter causado um efeito tão cômico. Tudo foi muito sério para ele, sério mesmo, e aquilo que dizia, também sabia fazer. Era como se suas peças (e também seus outros textos) tivessem se transformado constantemente, mas nunca tivessem sido nada além de uma aparência. Isso significa alerta máximo: arte! Uma aparência concreta, e no caso dele isso não foi nenhum paradoxo. Ele teve, por assim dizer, domínio total da fabricação; os produtos que fabricou nunca fizeram com ele aquilo que queriam, foi ele que fez com eles o que eles queriam ter feito com ele. Ele foi mais rápido. Havia algo que parecia lhe desafiar, mas esse hiper-realismo (todas as frases das primeiras peças já tinham sido ditas na realidade, que corria ao lado das peças, rosnando e abocanhando, não, não é o contrário, não é a arte que corre ao lado da realidade, mas a realidade ao lado da arte! e, mesmo assim, essas primeiras, e tão famosas, peças foram algo de muito diferente, que se passava em um universo paralelo que não tinha nada a ver com o universo da vida) não pôde se esculpir em suas figuras, foram muito mais as figuras que o esculpiram, no sentido de que o autor era o mestre daquilo (a técnica da escrita?) que havia gerado essas figuras. Com isso, ele desafiava a realidade, de quem havia emprestado suas figuras. Um duelo injusto. A realidade só poderia sair perdendo, mas acabou levando junto Wolfgang Bauer, como vingança?, no processo de escorrer como que por um ralo. O poeta arrancou as figuras da torneira, talvez porque, para ele, a água sempre correra muito devagar, e assim que elas foram agarradas (como se pode agarrar a água? Água assim como carne? Transformar água em carne? Formar algo, que não foi feito para a forma e com ela não se conforma, algo que simplesmente escorre por água abaixo, sempre? Com ela, podemos nos lavar e não se molhar, mas as figuras de água são e, ao mesmo tempo, não são, por isso, nas peças tardias, as figuras só se aguentam em pé na cabeça do próprio poeta), ele as moldou em figuras teatrais. Só que não deu. Como já disse, aquilo que escorre, mesmo tendo vontade de ganhar forma, não pode ser moldado por ninguém, não se deixa modelar. E, mesmo assim: Essas figuras imoldáveis precisaram da presença de algum poder modelador, que foi esse poeta Wolfgang Bauer, que fez algo com elas, sobre as quais não se sabia de onde vinham e para onde iam (sim, Bauer se colocava essa questão de modo programático, mas suas figuras, conduzidas ad absurdum em si mesmas e consigo mesmas, não poderiam ser de outro modo. Nisso, penso eu, elas se assemelhavam àquelas nos romances policias de Erle Stanley Gardner, que começam inofensivos e muito concretos, mas que logo, em duas, três páginas, já não se deixam mais apreender, e também não se pode apreender mais nada deles e daquilo que os cerca, apesar disso, eles ainda são romances policiais, que, afinal, dependem de seu contexto, de sua época, de seus motivos, oportunidades e circunstâncias para darem em algo), fez algo com elas, apenas por meio da sua escrita, continuamente as desafiando – que um não pode ser nada sem outro, escrever significa desafiar – algo foi feito e é jogado de um lado para o outro, por força de um poder que ninguém conhece, a roupa suja se debate no tambor da máquina de lavar (como se a máquina precisasse da roupa suja para ser uma máquina! O que define o que aqui?), algo que subjuga um outro, mas não se sabe mais o que: as personagens o poeta ou o poeta as personagens? E não se sabe mais, porque um fez o outro emergir, não, literalmente: fez o outro, no jogar-se e ser jogado pra cima e pra baixo. Esse corresponder (não contradizer!) de um com outro exige a presença de personagens das quais se exige alguma correspondência, mas uma correspondência ao nada. Talvez essa incerteza fundamental dessa dialética da existência (o poeta não é nada sem suas personagens e elas nada sem ele) tenha feito com que os teatros, nos últimos anos, não tenham tido mais coragem de levar aos palcos esse poeta maior. Talvez por conta desse espanto diante de algo que, como “mera” escrita, estava realmente lá, tanto como fato quanto como algo imaginado? Algo que precisa escapar de todo olhar, porque foi feito para todo olhar? Não sei. Não consigo ver o teatro por dentro, meu olhar é muito superficial. Nas peças aparentemente tão concretas de Wolfgang Bauer, e também suas peças tardias são muito “concretas” em suas composições, está um abismo, que consiste no fato de que nenhum dos parâmetros dessas peças sabe para onde pode e deve ir, onde deve se fazer presente e onde não, mas também onde não deve, ele está lá, cada um desses parâmetros, isto é, tempo, lugar, ação: um abismo que eu, pessoalmente, procuro evitar, porque eu, por princípio, evito a mudança que a cada presença se presentifica (ele não a evitou, ele não evitava nada, nem mesmo a perda do Eu, na anestesia, na doença de seu coração, pelo menos é o que eu acho) e que só precisa da escrita, para determinar e fixar também e justamente essa mudança. Foi isso que Wolfgang Bauer fez. O fato foi esse, mesmo que no fim Bauer não tenha conseguido levantar, portar ou suportar o fardo.  

Acesse os verbetes de Elfriede Jelinek e Wolfgang Bauer para saber mais sobre esses autores!

A Caverna de Ludlam (ou: a primeira teoria da conspiração literária de Viena)

Nas primeiras décadas do século XIX, a comunidade intelectual da Áustria levava uma vida social intensa. Estar presente nos círculos sociais – sobretudo no sentido físico – era fundamental tanto para discussões artísticas, políticas e ideológicas quanto para satirizá-las. Os cafés, até hoje símbolos da vida burguesa e intelectual vienense, eram antros de poetas, pintores, atores e músicos que se engajavam politicamente. Outros, mais interessados em questões artísticas, preferiam os salões literários, onde declamavam poesia, encenavam peças teatrais e tocavam música.

Em algum ponto de 1819, um escritor e funcionário público vienense Ignaz Franz Castelli se cansou da vida típica de seus contemporâneos e resolveu reunir alguns amigos para zombar da vida dos cafés e de todo seu engajamento contrário às práticas do governo dos Habsburgos. Castelli era conhecido principalmente pela sua produção literária cômica, além de ter sido um ilustre representante de literatura pornográfica e erótica. Nem todos os seus amigos seguiam o mesmo caminho e muitos mantinham suas produções cômicas engavetadas. Dessa união de homens dispostos a rir e satirizar Viena e a burguesia local – incluindo eles próprios –, surgiu um grupo repleto de mistério, lendas e preocupações: a Ludlamshöhle (Caverna de Ludlam).

Wien Museum, Inventarnummer W 7403

O grupo não tinha absolutamente qualquer objetivo prático, fosse ele político ou artístico. O próprio nome era arbitrário: Ludlamshöhle era meramente o título de uma peça que tivera uma péssima bilheteria naquele ano. Os membros, que iam de progressistas a reacionários, mas essencialmente burgueses, se encontravam nos fundos de uma taverna. Esse ambiente era um símbolo para um dos poucos objetivos claros: se apresentarem como “anti-cafés”. Estranhamente, a Ludlamshöhle foi um sucesso e teve diversos adeptos, incluindo escritores de grande prestígio. Para entrar na sociedade, devia-se cumprir um ritual de iniciação, que consistia em uma prova de conhecimentos das áreas “história ludlamita”, “economia ludlamita” e “ciências fúteis”. Ao passar na prova, recebia-se um “nome ludlâmico”, fictício e cômico, e cantavam-se músicas do grupo. O cartão de associado era um cardápio sujo da taverna.

Apesar da total ausência de seriedade dos ludlamitas, o grupo era tão obscuro para quem estava de fora que se iniciaram em toda a cidade rumores e lendas sobre as reuniões. Temia-se um possível grupo revolucionário, caótico, contrário ao governo autoritário e censurador de Metternich. Na noite de 18 de abril de 1826, a polícia vienense classificou a sociedade como uma ameaça ao Estado, invadiu uma das reuniões, prendeu os presentes e confiscou alguns supostos documentos que “comprovavam” ideais contrários ao governo. As casas dos membros também foram

arrombadas e investigadas, os vizinhos interrogados e as “provas” levadas à polícia. Todo esse exagero intensificou os mitos sobre o Ludlamshöhle e alguns dos membros continuaram perseguidos e espionados pelas autoridades durante anos. É claro que as empreitadas investigativas não foram lá muito bem sucedidas – muitas vezes, simplesmente não havia o que achar.

Para encerrar, trago um texto satírico escrito pelo dramaturgo Franz Grillparzer (1791-1872), cujo nome ludlamita era Saphokles, o Ístrio.

Polimestre (1836)

Começarei com o mais simples: que pode ser mais simples que o Nada? Falo do Nada, o primeiro, o mais simples, o conceito primordial. E agora, atenção. O que é Nada? Para além de não ser nada, é ao mesmo tempo o negar. Tendo já conquistado a negação, continuarei operando a partir dela. Primeiro, nego o Nada: Não-Nada. Não-Nada é Algo. Vedes a semente da qual o mundo há de emergir? Mas, calma! O melhor está por vir. Sigo negando e agora maltrato o Algo. Eu o nego. Não-Algo. Não seria Não-Algo, talvez, Nada? De modo algum! O Algo não se permite, uma vez lá, ser levado embora. Algo não pode não mais ser. Mas o que é Algo? Algo é um não muito, um restrito. Portanto, se eu nego o Algo restrito, e não posso dessa forma eliminar o Algo, o que estou negando? A restrição. Não-Algo é o Algo irrestrito, o Tudo. Tudo é o Mundo. Eu, consequentemente, criei o Mundo, como Deus, a partir do Nada. Pegai-lo, ide passear nele, relaxai, reanimai. Vós tendes o Mundo, eu vos presenteio com ele.

(Tradução por Everton Bernardes)

Polymaster (1836)

Ich fange mit dem Einfachsten an: Was kann einfacher sein als Nichts. Ich sage also Nichts, der erste, einfachste, der Urbegriff. Und nun geben sie acht. Was ist Nichts? Nebstdem dass er gas nichts ist, ist es zugleich die Verneinung. Ich habe also schon die Negation erobert und operiere damit fort. Zuerst also negiere ich das Nichts: Nicht – Nichts. Nicht – Nichts ist Etwas. Sehen Sie das Samenkorn aus dem die Welt hervorgehen wird? Aber Geduld! Es soll schon besser kommen. Ich negiere weiter und maltraitiere nun das Etwas. Ich negiere es. Nicht – Etwas. Wäre Nicht – Etwas vielleicht Nichts? Keineswegs! Das Etwas lässt sich nicht wegbringen wenn es einmal da ist. Etwas kann nicht zu nichts werden. Aber was ist Etwas? Etwas ist ein nicht Vieles, ein Beschränktes. Wenn ich daher das beschränkte Etwas negier, und kann damit das Etwas nicht wegschaffen, was negiere ich denn? Die Beschränkung. Nicht – Etwas ist das unbeschränkte Etwas, das Alles. Alles ist die Welt. Ich habe somit die Welt erschaffen, wie Gott aus Nichts. Nehmt sie, geht darin spazieren, erholt euch, erquickt euch. Ihr habt die Welt, ich schenke sie euch.

Referências:

CASTELLI, Franz I. Memoiren meines Lebens. 2: Von Jahre 1814 bis zum Jahre 1830. Viena: Kober & Markgraf, 1861.

HOLZINGER, Dieter O. (org.) Franz Grillparzer – Der Zauberflöte zweiter Teil und andere Satiren. Berndorf: KRAL Verlag, 2006.

Monólogos em Maiorca

Em 1981, Thomas Bernhard se dispôs a conversar, durante alguns dias, com a jornalista Krista Fleischmann. Dessas conversas resultaram as famosas “Monólogos em Maiorca” [Monologe auf Mallorca], gravações em vídeo do escritor falando e brincando sobre a vida, a morte, o riso e a raiva, a filosofia e as vantagens de estar num país em que não se entende a língua falada pelas pessoas ao redor. Agora, a primeira parte desses monólogos estão disponíveis no Youtube com legendagem em português, elaborada por Leonardo Lamha. Quem quiser conhecer um pouco melhor o autor austríaco, conhecido pelo seu mau humor e pessimismo, não deixe de assistir, para conhecer um Thomas Bernhard brincalhão e bem à vontade e, ao mesmo tempo, irônico e crítico como os narradores de seus livros! 

Nosso evento “Literatura austríaca em foco: conhecendo autores e obras” começa amanhã, dia 24 de agosto! E você já pode aproveitar os descontos em títulos selecionados no cestão da Editora UFPR, tais como “Áustria: uma história literária” e “Ensinar Alemão no Brasil: contextos e conteúdos”. E claro, livros de Thomas Bernhard, como “O Presidente” e “Uma festa para Boris”.

E não deixe de aproveitar o código promocional AUSTRIATEMPORAL30 de 30% de desconto nas obras “Praças dos Heróis”, de Thomas Bernhard, e “O que aconteceu após Nora deixar a Casa de Bonecas ou Pilares das Sociedades”, de Elfriede Jelinek, lá no site da Editora Temporal. Para aproveitar o desconto no site da Temporal, basta adicionar o código promocional ao finalizar sua compra.

A reconstrução da língua na literatura de Ilse Aichinger

Bruna Senke Marcelino

A escritora austríaca Ilse Aichinger foi um dos nomes mais importantes da literatura em língua alemã escrita após a Segunda Guerra Mundial. Seu primeiro e único romance, Die größere Hoffnung (A maior esperança), foi publicado em 1948 pela Bermann-Fischer Verlag. Neste romance, Aichinger mostra a violência contra crianças judias durante a era de Hitler e o faz através da perspectiva de uma menina que é filha de mãe judia. Ela faz isso partindo da sua própria história de vida, dado que a autora, também filha de mãe judia e pai não-judeu, permaneceu em Viena como forma de proteger a mãe. Ambas, personagem e autora, tiveram a permanência na cidade marcada por um perigo constante, pela eminência da morte de entes queridos, pelo isolamento e humilhação.  

No romance ela trata sobre o medo, a ameaça e a esperança das “crianças com os avós errados”2, a escritora não precisa dizer que as crianças eram judias, ou filhas, ou netas de judeus. Para conseguir isso, a escritora utiliza uma linguagem figurada em sua narrativa. A primeira frase do romance, por exemplo, “Em torno do Cabo da Boa Esperança, o mar ia ficando escuro”3 não chega a dizer que a guerra começou, mas reconstrói essa ideia linguisticamente através da oposição entre a esperança e a escuridão que a ameaça. Deste modo, a língua, usada pela guerra para assassinato, barbárie, destruição, perseguição, encontra nos textos de Ilse, um modo possível de acessar a dura realidade que estava ainda tão recente na memória daquele povo. Aichinger tornou isso possível escrevendo a partir das vivências de uma criança, na qual o mundo da imaginação infantil se mescla com o concreto.  

Em geral, a literatura do pós-guerra tenta desenvolver uma nova forma de usar a língua alemã e foi o que Ilse Aichinger fez em seu único romance, Die größere Hoffnung.  

Quer saber mais sobre literatura austríaca? Confira a programação do nosso evento “Literatura austríaca em foco: conhecendo autores e obras” aqui e faça sua inscrição através do formulário.

Referências: 

AICHINGER, Ilse. Die größere Hoffnung. Frankfurt am Main: Fischer, 2021. 

BONACO, Paulo André Cortesão. Die größere Hoffnung, de Ilse Aichinger tradução comentada de dois capítulos. Dissertação – Universidade de Coimbra, Coimbra, 2021.