O Centro Austríaco começa uma nova série temática para explorar diferentes aspectos da vibrante vida teatral de Viena. A nossa coordenadora, Ruth Bohunovsky, está em Viena e frequenta seus teatros regularmente, e vamos compartilhar uma série de publicações no Instagram do Centro Austríaco com informações, insights e curiosidades do mundo teatral da cidade. Nas postagens, abordaremos desde os bastidores das produções e curiosidades históricas, até informações sobre peças em cartaz, debates e reflexões polêmicas sobre a cena teatral. Vamos falar sobre a história dos teatros, sobre clássicos e textos dramáticos modernos, diferentes estilos de encenação e até mesmo as adaptações de romances para o palco.
A série vai completar e dialogar com os nossos verbetes já disponíveis sobre dramaturgia austríaca (George Tabori, Clemens Setz, Wolfgang Bauer, Thomas Bernhard, Elfriede Jelinek e Peter Handke), em que apresentamos ao público brasileiro importantes autores teatrais e suas obras (parcialmente traduzidas para o português).
Você sabia que, em Viena, o teatro é visto não apenas como uma forma de arte, mas como uma maneira de viver e compreender a vida? As peças podem durar de uma a quatro horas, e uma ida ao teatro ou à ópera pode acontecer de smoking ou vestido de gala, mas também em jeans e bota de inverno. A programação inclui montagens grandiosas, leituras dramáticas intimistas, produções multimídia, encenações tradicionais ou subversivas dos grandes clássicos e de obras contemporâneas, tragédias hilárias e comédias sobre o fim do mundo? Os vienenses adoram conversar e polemizar sobre as peças em cartaz, e essas conversas acontecem tanto no bar do teatro durante os intervalos quanto nos jornais e em revistas especializadas, mas também em conversas informais com as amigas no café da esquina ou até com o cabeleireiro.
Atualmente, Viena conta com cerca de 70 teatros ativos, desde o maior e mais famoso de todos, o Burgtheater, até teatros menores e experimentais, como o teatro de fantoche Kabinetttheater, que produz peças do modernismo europeu. Há debates acalorados sobre atualizar peças clássicas de Shakespeare ou Goethe, se o elenco atual é melhor ou pior que o de antigamente, e se romances podem e devem ser adaptados para o palco – nos últimos meses, vimos, por exemplo, obras em prosa como “Holzfällen” de Thomas Bernhard, “Malina” de Ingeborg Bachmann, “Die Schachnovelle” de Stefan Zweig, “Der Zauberberg” de Thomas Mann e “Die Verwandlung” de Franz Kafka adaptadas para o teatro.
Obviamente, o teatro vienense se insere na tradição teatral dos outros países de língua alemã e, cada vez mais, em escala global. Antigamente, falava-se em “teatro nacional” com produções artísticas apenas em língua alemã. Hoje, vemos palcos com produções em várias línguas e perspectivas internacionais, com obras produzidas por encenadores de outros países que trazem novas ideias criativas para a literatura e o drama em alemão. Isso traz desafios para a tradução: temos legendagem em teatro, traduções projetadas no palco, elencos multilíngues que precisam de tradutores durante os ensaios, encenações que usam de propósito a não-compreensão como elemento chave de sua produção. Essa diversidade cultural e linguísticas se reflete na programação dos teatros da cidade, mas também no festival “Wiener Festwochen”, que atrai produções teatrais, musicais e de dança do mundo todo, inclusive do Brasil. Por exemplo, em 2020, foi a atriz brasileira Kay Sara quem deu a palestra de abertura do festival, que ocorreu online, devido à pandemia. E, na versão de 2023, o atual diretor do festival, Milo Rau, transferiu a obra “Antígona” de Sófocles para o Brasil contemporâneo e a encenou com participantes indígenas que lutam pela posse de terras (veja mais sobre esse projeto aqui).
A cena teatral dos países de língua alemã tem várias diferenças em relação ao Brasil. Os grandes teatros, como o Burgtheater e a Ópera de Viena, são instituições públicas com grande estabilidade financeira e de planejamento. Ao mesmo tempo, os teatros menores precisam se adaptar a editais e investir muita criatividade e flexibilidade para garantir a sobrevivência, mas apresentam igualmente produções de grande qualidade ao público da cidade e visitantes de outras regiões e países.
Venha nos acompanhar em nossa nova série temática, visitando alguns teatros de Viena (e, talvez, de outras cidades), conhecendo sua arquitetura, suas histórias, peças e montagens, curiosidades e debates atuais!
