O teatro é, sem sombra de dúvidas, um ponto alto nas culturas e nas literaturas de expressão alemã, e é certo que a Áustria viu toda uma tradição teatral florescer após o fim da Segunda Guerra Mundial, dando continuidade a uma forte presença e relevância do teatro na vida cultural do país, acima de tudo em Viena.

No entanto, por mais que possuam reconhecimento internacional pelas suas contribuições artísticas, com a atribuição de homenagens e prêmios importantes a eles, estes autores são, via de regra, pouco conhecidos, senão completos desconhecidos, do público brasileiro em geral. Isto se deve em boa medida ao fato de que são raras as traduções e publicações de suas obras como um todo disponíveis em língua portuguesa no país.

Tendo em vista tanto a falta de publicação de textos dramáticos traduzidos quanto o status do teatro no Brasil, o Centro Austríaco apresenta o projeto de divulgar e traduzir (integralmente ou pelo menos em parte) textos dramáticos de língua alemã. Nosso objetivo é apresentar dramaturgos (sobretudo) do teatro austríaco (modernos e contemporâneos), com a disponibilização de informações relevantes a respeito de suas vidas e em especial de suas obras dramatúrgicas.

Saiba mais sobre o projeto aqui.

FISTON MWANZA MUJILA

Nascido no Congo e professor de literatura africana na Universidade de Graz
(Áustria), Fiston é uma voz poderosa da literatura contemporânea. O seu trabalho
literário varia entre romances, poemas e textos dramáticos, que escreve em língua
francesa e, há alguns anos, também em alemão, embora esses dois idiomas não
sejam suas primeiras línguas. A estética de suas obras se concentra no uso de
elementos musicais e rítmicos, como o jazz, e a temática trata de temas como a
exploração colonial e da natureza, o turismo exacerbado, a globalização e a venda
de recursos naturais. Sua obra mais conhecida, Tram 83, ganhou diversos prêmios,
entre os quais se encontram o Man Booker International Prize, o Etisalat Prize for
Literature, e também o Internationalen Literaturpreis des Hauses der Kulturen der
Welt 2017.

Verbete sobre Fiston Mwanza Mujila, com autoria de Mariana Bourscheid Cezimbra.

ARTHUR SCHNITZLER

Considerado um dos grandes nomes da literatura de língua alemã, Arthur Schnitzler (1862-1931) foi médico, escritor, dramaturgo e viveu em Viena durante a virada do século XIX para o XX, período em que a capital austríaca se tornou, ao lado de Paris, um dos polos culturais da Europa. Mais conhecido como “o poeta do sexo”, suas obras frequentemente tratam da sexualidade, dos dilemas internos relacionados ao desejo e à moralidade, consideradas controversas para a época, o que lhe rendeu censuras das autoridades. No Brasil, é mais famoso por suas novelas, como Breve Romance de Sonho (1926), que ganhou a famosa adaptação de Stanley Kubrick para o cinema, De Olhos Bem Fechados (1999). Porém, o drama é o gênero mais explorado pelo escritor, sendo reconhecido como um dos principais dramaturgos da Viena fin de siècle.

Verbete sobre o escritor e dramaturgo Arthur Schnitzler, com autoria de Mariana Alice de Souza Miranda.

ROBERT MUSIL

Verbete sobre o escritor e dramaturgo Robert Musil.

JOHANN NESTROY

Pouco conhecido no Brasil, Johann Nestroy (1801-1862) foi o “ancestral” da literatura dramática austríaca. Foi ator, dramaturgo e cantor e suas peças são encenadas com grande frequência até hoje, tanto nos teatros grandes quanto por grupos amadores. O maior prêmio austríaco concedido anualmente para produções e atuações de destaque nos palcos do país chama-se justamente “Nestroypreis”. O ator e autor se destacou por suas obras cômicas e satíricas, que criticavam a sociedade de sua época e os costumes burgueses. Seu uso da língua alemã e suas variações também chama atenção desde o século XIX e continua inspirando autores como Elfriede Jelinek e Thomas Bernhard.

GEORGE TABORI

Testemunha das tragédias do século XX, George Tabori foi um dramaturgo, diretor e escritor austro-húngaro e de origem judaica, nascido em 1914 e falecido em 2007. Por meio de seu estilo idiossincrático, o dramaturgo explorou diversas formas do cômico para investigar e confrontar contextos carregados de violência, injustiça, desigualdade e sadismo, tal como a Shoah. Sua obra não apenas desafia convenções, mas também convida seu público a reconsiderar narrativas históricas e sociais já estabelecidas. Assim, Tabori se destaca como uma figura central no panorama do drama europeu, desafiando tabus com sua representação não convencional e provocativa de temas controversos, muitas vezes moldados por sua própria história de vida e traumas provocados por ser judeu durante a ascensão do nazismo e pelo seu cosmopolitismo forçado diante da tragédia do seu tempo.

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CLEMENS SETZ (*1982)

Outsider literário, Clemens Setz é um escritor austríaco contemporâneo diferente dos demais. Vencedor do Prêmio Georg Büchner de 2021 pelo conjunto da obra, ele é um ficcionista prolífero, autor de dramas, romances, contos, poemas, além de tradutor de obras do inglês para o alemão. Seus textos são mosaicos multimidiáticos que mesclam múltiplos gêneros e estilos, explorando sempre questões de linguagem e de tecnologia, com especial atenção a temáticas atuais, como a realidade do mundo cibernético e a ética da inteligência artificial.

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WOLFGANG BAUER (1941-2005)

Enfant terrible da literatura e teatro austríacos, Bauer é considerado um gênio por pessoas como Peter Handke. Ele se destacou por sua extensa obra teatral, que inclui peças inovadoras, com incursões pelo teatro do absurdo ao hiper-realismo, retratando tipos sociais com muita irreverência, sem medo de explorar e escrachar os traços mais problemáticos de suas personagens.

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THOMAS BERNHARD (1931-1989)

Dramaturgo, romancista e ensaísta, Thomas Bernhard ficou conhecido como uma espécie de destruidor na literatura austríaca, pela voz dura e sempre pessimista, carregada de hipérboles violentas e estruturas repetitivas – certas vezes, de efeito cômico – que emulam a estrutura de obsessões e não deixam espaço para qualquer perspectiva redentora do mundo. Na obra bernhardiana, o diálogo íntimo com os problemas da nação chegou cedo, desde a publicação de seu primeiro trabalho em prosa, o romance “anti-patriótico” ou “anti-pátria” (Anti-Heimat-RomanGeada [Frost] de 1963. A ele se seguiriam anos de intensa produção literária, marcados por constantes controversas com a crítica e o público.

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Elfriede Jelinek

ELFRIEDE JELINEK (*1946)

Nobel de Literatura de 2004, Jelinek se destaca como um dos grandes pilares do teatro austríaco, com peças inteligentes e provocativas, na mesma medida que sagazes e cômicas, partindo muitas vezes de acontecimentos e tragédias da vida real para gerar reflexão sobre gênero, classe, política etc., em que os temas nunca se esgotam, mas se desdobram num macramê linguístico.

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PETER HANDKE (*1942)

Peter Handke é um romancista, dramaturgo, poeta e roteirista austríaco, premiado com o Nobel da Literatura em 2019. Nascido em Grippen, uma pequena cidade no sul da Áustria, sua carreira literária se iniciou no ano de 1964, quando, estudante de direito em Graz (Áustria), tornou-se membro do grupo literário Grazer Gruppe – do qual Elfriede Jelinek e Wolfgang Bauer também foram integrantes. Apesar do sucesso comercial e crítico nos anos seguintes, sua imagem publica foi abalada quando, na década de noventa, ele se posicionou ao lado do governo sérvio durante a Guerra na Iugoslávia. Hoje o autor vive relativamente isolado das mídias e notícias, residindo em Chaville, na França, desde 1990. A prática de responder às críticas por meio de longos ensaios ou livros continua a ser adotada por ele, que, no entanto, tem-se dedicado a uma poética cada vez mais introspectiva.

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