Na quarta-feira, dia 26 de abril, aconteceu a palestra com o professor austríaco Johann Georg Lughofer, especialista em literatura, da Universidade de Ljubljana (Eslovênia), sobre literatura no modernismo vienense.
O palestrante fez uma breve explanação sobre o contexto do modernismo vienense, uma época revolucionária, também chamada de Vale do Silício da alma, que deu origem a um importante período cultural e histórico em Viena. Muitos assuntos foram questionados, como, por exemplo, a questão de gênero, que possibilita uma comparação com o momento atual. Outro fator central foi a segunda revolução industrial com o desenvolvimento da tecnologia eletrônica. Além disso, essa época foi marcada por grandes avanços na área acadêmica e intelectual, com pensadores como Sigmund Freud ou o físico Ernst Mach. Outras questões como o antissemitismo e o sionismo também foram discutidas.
Todas essas mudanças influenciaram fortemente a percepção de identidade: por exemplo, a diferença entre dia e noite foi relativizada pela possibilidade de iluminação noturna elétrica. Da mesma forma, a percepção espacial mudou com meios de transporte mais rápidos ou com o acesso a novos meios de comunicação. A mudança da percepção do ser no tempo e no espaço talvez tenha provocado uma reflexão mais profundo do ser. Nervos e alma são, portanto, palavras-chave daqueles tempos, paralelos podem ser vistos com os tempos de hoje. Com as novas hipóteses sobre a psique, novos discursos foram gerados em torno do ser humano, que não parece estar no controle total de seu ser, mas constantemente controlado por autoridades superiores do subconsciente, segundo as teorias de Freud. Todos esses aspectos inquietantes e intrigantes, que provocam a ruptura de velhas percepções sobre a própria identidade, se refletem em um novo movimento literário.
O movimento Jung Wien foi então introduzido pelo palestrante, o grupo ficou conhecido pelo alcance de novas formas e tradições de escrita literária. O que eles tinham em comum era o interesse pela experiências íntimas e internadas do individuo; a alma inesgotável. Lughofer cita o escritor Hofmannsthal sobre a alma: “é uma observadora e um objeto ao mesmo tempo, ou seja, um assunto sobre o qual não se pode escrever e articular”.
Em seguida, Lughofer apresentou alguns dos mais importantes escritores da época, entre eles Hermann Bahr, Peter Altenberg, Leopold Andrian, Felix Salten e Arthur Schnitzler. Ao final da palestra, o público teve a oportunidade de interpretar alguns poemas, entre outros, o famoso poema “Ballade des äußeren Lebens ”, de Hofmannsthal. Convidamos aos leitores a se sentir um pouco mais próximos do pensar dessa época com a leitura deste poema:
BALLADE DES ÄUSSEREN LEBENS
Und Kinder wachsen auf mit tiefen Augen,
Die von nichts wissen, wachsen auf und sterben,
Und alle Menschen gehen ihre Wege.
Und süße Früchte werden aus den herben
Und fallen nachts wie tote Vögel nieder
Und liegen wenig Tage und verderben.
Und immer weht der Wind, und immer wieder
Vernehmen wir und reden viele Worte
Und spüren Lust und Müdigkeit der Glieder.
Und Straßen laufen durch das Gras, und Orte
Sind da und dort, voll Fackeln, Bäumen, Teichen,
Und drohende, und totenhaft verdorrte …
Wozu sind diese aufgebaut? und gleichen
Einander nie? und sind unzählig viele?
Was wechselt Lachen, Weinen und Erbleichen?
Was frommt das alles uns und diese Spiele,
Die wir doch groß und ewig einsam sind
Und wandernd nimmer suchen irgend Ziele?
Was frommts, dergleichen viel gesehen haben?
Und dennoch sagt der viel, der ›Abend‹ sagt,
Ein Wort, daraus Tiefsinn und Trauer rinnt
Wie schwerer Honig aus den hohlen Waben