Este foi o título do webinar conduzido por Ruth Bohunovsky, coordenadora do Centro Austríaco, na última semana. Como a história das mulheres é tratada hoje na Áustria? Muito se fala sobre o papel dos homens na história, mas dificilmente das mulheres, que desempenharam um papel tão importante quanto eles e alcançaram excelência em diferentes disciplinas, mas foram esquecidas simplesmente por serem mulheres. Como forma de contra-movimento a isso, várias iniciativas buscam resgatar suas histórias, e aqui apresentaremos algumas delas.
Primeiro, Ruth recomendou o filme sobre Johana Doner, ex-primeira ministra austríaca que lutou pelos direitos das mulheres. Veja o trailer:
Ruth também cita a iniciativa da editora austríaca Das vergessene Buch [livros esquecidos], que visa publicar novamente obras que foram proibidas no tempo do nazismo e ficaram esquecidas no mercado editorial. Muitas autoras têm obras nesse situação, e essa é uma oportunidade para voltarem a ser lidas.
Outro projeto, criado pela artista Iris Andraschek, é a grande sombra de uma mulher no Pátio de Arcos (Arkadenhof) da Universidade de Viena com a frase Der Muse reicht’s” [a musa está farta]. O fato de essa sombra estar em um dos principais pátios da Universidade de Viena não é por acaso: aqui estão inúmeros bustos de homens reconhecidos historicamente e academicamente pela universidade – entre eles, apenas uma mulher.

Mas qual é o significado da frase mencionada – uma musa? O conceito de musa como personagem feminina idealizado pelos homens ao longo da história adquire aqui uma nova dimensão. É sobre como a mulher transcende esse papel, se liberta dele e consegue se redefinir. A musa não quer mais ser musa, mas sim ser reconhecida como igual e viver em condições de igualdade.
Kalliope também foi musa, e é justamente esse nome que serviu para a exposição do Itamaraty com o objetivo de resgatar a memória de mulheres importantes para a sociedade austríaca. A partir dessa exposição, o Centro Austríaco realizou um projeto de tradução e divulgação dessas histórias no Brasil. Clique aqui para saber mais.
Ruth nos lembra com esses exemplos que a história não é algo que já foi escrito e determinado, mas é continuamente renegociado e reescrito por meio dos discursos atuais. Nessa perspectiva, a aula de alemão como língua estrangeira ou segunda língua também adquire uma dimensão discursiva importante para lidar com questões históricas. A própria Ruth já iniciou projetos nessa área em relação à criação de material didático para o contexto brasileiro que aborda questões culturais e históricas desde os níveis mais básicos, uma vez que o nível de alemão não deve ser um empecilho para tratar de temas interessantes. Um exemplo de material sobre Sissi pode ser encontrado aqui.
Ruth também menciona o seguinte: Para participar de discursos atuais sobre um tema, é necessário saber quais informações existem sobre dele, que diferentes perspectivas abordam o mesmo tema, já que uma pessoa ou um lugar podem ter muitos significados na memória coletiva, pois isso depende também da percepção subjetiva de cada pessoa. Assim, o papel da mulher pode ter sido definido em um momento a partir de uma perspectiva específica, mas na verdade foi muito mais do que isso, só não foi reconhecido naquele momento. Como por exemplo no caso da primeira mulher a dar a volta ao mundo: a austríaca Ida Pfeiffer, que inicialmente viveu uma vida predeterminada pela sociedade, em um casamento arranjado, mas decidiu seguir sua paixão para ver o mundo.