Em setembro de 2021 estreou no Akademietheater de Viena a peça “Lärm. Blindes Sehen. Blinde sehen!” [Barulho. Visão cega. Os cegos veem!], a peça mais recente de Elfriede Jelinek. O tema é a pandemia de Covid-19 e – como sempre – Jelinek o aborda com seu modo e estilo bem peculiar. O termo “Lärm” [barulho] do título pode ser entendido como uma alusão ao barulho mediático do mundo atual, ao barulho que qualquer pessoa é capaz de causar no universo digital e/ou político através de notícias irrelevantes, mentirosas, falsas etc.
Como em todas suas peças teatrais, há diversas relações intertextuais com outras obras literárias. Neste caso, por exemplo, com a Odisseia de Homero, onde, em determinado momento, os companheiros de Odisseu são transformados em porcos. Na peça de Jelinek, a imagem do porco está presente e alude à pandemia, à questão se o ser humano não estaria se transformando em ou se comportando como um porco, mas também deixando espaço para associações individuais dos espectadores.
O responsável pela encenação no Akademietheater foi o diretor alemão Hans Castorf, famoso pelo uso criativo das novas tecnologias no palco. O resultado cênico é impactante, uma montagem de quatro horas de duração, com forte impacto auditivo e visual. Veja o trailer da montagem:
Se o figurino parece algo familiar, não é de se admirar: a responsável é a brasileira Adriana Braga Peretzki, que se inspirou no universo visual dos orixás brasileiros para vestir os atores e as atrizes da peça jelinekiana. Veja uma entrevista com a figurinista aqui:
Recomendamos também olhar o trailer de outra montagem da mesma peça, no Deutsches Schauspielhaus Hamburg, para conferir como um mesmo texto teatral pode resultar em montagens muito diferentes: